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Foto do escritorJosé Roberto Sadek

Indicação de Série / Fallout



FALLOUT – série de 8 capítulos, cerca de uma hora. Disponível na Prime Vídeo.


Esta série é baseada no videogame de mesmo nome. Se você não conhece o game, não se importe, a série tem vida própria, é compreensível mesmo para quem não gosta ou não joga.


A história ocorre lá pelos anos 2250 mais ou menos. O planeta passou por alguma hecatombe nuclear. A superfície cheia de radiação tornou a vida impossível, ou aparentemente impossível.


Vários grupos vivem uma vida exemplar em refúgios subterrâneos, onde a cordialidade e as boas maneiras predominam. Seus habitantes são ingênuos, conhecem parcialmente a realidade e assim vivem felizes. Na verdade, estas vidas que parecem adoráveis ocorrem em alguns refúgios, veremos que não em todos.


Na superfície, há alguma vida, mutantes, mortos vivos, humanóides sofridos e violentos, um contaste forte com a vida pacífica dos refúgios.


A personagem Lucy (Ella Purnell) nos levará pela aventura naquelas realidades todas, mas ela só se configura como protagonista à medida que a trama segue. Bandos, grupos, exércitos, lobos solitários, seres mutantes e mutilados, seres exóticos, há personagens de todos os tipos.


Ao contrário do que se possa imaginar para uma série derivada de game, as personagens, embora ingênuas têm objetivos bem claros, têm conflitos claros, têm alguma densidade, evoluem, mudam com o andar das tramas e das situações que se apresentam. Elas aprendem, às vezes a duras penas, são obstinadas, adaptáveis, persistentes e descobrem as verdades que procuram.


A estética é elaborada, e é nitidamente feita com as mesmas técnicas e padrões de engenharia e softers que os videogames. As mesmas estratégias de efeitos especiais 3D, de modelagem de ambientes e até mesmo de personagens usadas nos games são usadas igualmente na série. E funcionam bem.  A fotografia é linda, consistente, e é feita pelos softers ambientais, ou seja, um mesmo ambiente em que se projeta os segundos planos, em que se modela prédios, interiores, paisagens e até personagens têm a luz e a fotografia sob total controle. Os ângulos e os movimentos de câmera são facilmente programáveis pelos mesmos softers que colocam cores, texturas etc nos volumes. Será interessante reparar nisso. Aqueles ambientes enormes, desérticos, boa parte dos ambientes internos, dos construídos em ruínas, e até os efeitos nas personagens são realizados com as técnicas de animação de games e de animações. Estas técnicas se aplicam igualmente a todas estas modalidades de contar histórias, seja um game, seja uma animação, seja uma série que parece live. Há uma nítida convergência de tecnologias.


Uma das principais características no caso de séries derivadas de games, é a narrativa fragmentada, como se fosse um mosaico. Nos primeiros capítulos aparecem cenas que terminam e a próxima não tem qualquer relação com a cena anterior.  Assim continua por várias cenas em seguida, em lugares diferentes, com personagens diferentes. A gente fica meio sem saber para onde a história vai, parecem diversas histórias sem conexão entre si. No segundo capítulo, um pouco menos. À medida que os capítulos se sucedem, vamos tendo cenas mais conectadas, as personagens se aproximam, fazem mais sentido em suas atitudes, e as tramas principais ficam mais evidentes. Esta compartimentação inicial das tramas é típica de games, que ao mudar de fase ou de momento mudam completamente de assunto, até se conectarem mais adiante. Se você não suporta este tipo de narrativa, não veja a série.


Se você também não suporta cenas agressivas de corpos mutilados em closes nítidos, ou de vísceras, ou de esqueletos, ou de gente morta ou morrendo, cabeças espatifadas, membros amputados, também é melhor evitar a série. Estas cenas não são as predominantes, mas a naturalidade com que algumas personagens agem e convivem com estas atrocidades é desconcertante. Também é típico de games em que predomina a ação e não a psicologia ou o drama das personagens. Então não tem drama? Tem sim, mas predominam ações de luta, de tiroteios, de maus tratos humanos.


Em pouco tempo a gente se esquece das narrativas clássicas e se acostuma com a narrativa mais apropriada aos trabalhos de muita ação, de muitas reviravoltas e do costume de tornar personagens que tem alguns atributos passarem a ter atributos opostos. Vamos navegando pelas tramas sem muita preocupação com tanta coerência.


Parece coisa pra gente jovem, mas porque os menos jovens não podem desfrutar destas narrativas? Não há nenhuma razão concreta. É um bom passatempo pra todo mundo, uma boa diversão, com as ressalvas feitas acima.

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