São 8 capítulos de cerca de 50 minutos cada, na plataforma Netflix.
Esta série merece nossa atenção. Veja só: são 8 personagens muito bem compostas, muito claras em suas bases psicológicas e comportamentais. Elas praticam diferentes religiões, são de diferentes classes socais e têm familiares com os quais se relacionam. Eles compõem um rico painel da cultura turca, particularmente de Istambul, capital da Turquia. Neste mosaico social, a série mostra o lado bem ocidentalizado de algumas personagens, com roupas, casas, trabalhos e hábitos semelhantes aos de qualquer cidadão das cidades ocidentais como Madrid, Kopenhagen, Paris, Chicago. Ao mesmo tempo mostra outro lado da cidade com gente mais simples, bem religiosa, que consulta o sábio da comunidade para qualquer decisão ou indecisão, que segue os figurinos mais tradicionais de não mostrar cabelos e nenhuma parte do corpo que não seja as mãos e o rosto.
Com rara clareza e talento, a articulação das tramas que envolvem estas personagens é bem arquitetada, vemos todos em ação, se relacionando entre si sem deixar suas bases culturais, seus hábitos e preceitos religiosos. É coisa muito difícil de fazer.
Esta Istambul cosmopolita, abriga comportamentos tradicionais em que um homem deve pedir ao irmão da mulher sua intenção de namorá-la, ou onde uma dúvida do patriarca da família deve ser resolvida com o conselheiro da região. Ao mesmo tempo, esta cidade tem personagens mulheres e homens com vida sexual ativa e descompromissada, que são e/ou que vão à terapia psicológica, tem bares agradáveis, tem academias de ginástica em que as personagens usam as mesmas roupas que usamos por aqui.
Há também uma personagem que tem que fazer uma visita ao interior da Turquia, área bem mais pobre e precária, o que abre um outro ramo de relacionamentos e de perspectiva cultural.
Curiosamente a série é escrita e dirigida por uma só e mesma pessoa, o cineasta Berkun Oya, nascido em 1977 na própria Turquia. Raramente se vê uma série tão bem cuidada e tão bem articulada. E tão clara e culturalmente tão importante. É impossível não se apaixonar por algumas personagens e não torcer por elas em suas dificuldades afetivas e sociais. Não é exagero dizer que é uma das melhores séries já escritas e produzidas.